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Chartres: o universo medieval

 

Como materiais básicos pensemos em pedra calcária de granulado grosso de Bercheres para o edifício, vidros coloridos nas janelas e utilização de pedras de Senlis para as esculturas.

A técnica do vitral consiste no encadeamento de vidros de cores por uma rede de filetes de chumbo ou por soldadura. A sua execução realiza-se a partir de um desenho prévio sobre o qual se estuda o modo de ordenar os pedaços de vidro e os tons das cores. O vitral conclui-se com a técnica do escurecimento, que delineia o desenho delimitado pela rede de chumbo, aplicando tintas de cor escura para realçar.


O sistema de construção é abobadado: a cobertura por quatro nervadas de cruzaria suportadas por paredes ornamentadas e pilares como suporte. No exterior, os contrafortes e arcobotantes fazem a resistencia ao empuxo das abóbadas.

O arquitecto medieval determina a composição arquitectónica através de meios matemáticos-geométricos, sistema técnico que se associa ao conceito platónico medieval de perfeição.


Os portais das fachadas, especialmente o portal principal, flanqueado por duas grandes torres, são elementos formais que determinam o espaço arquitectónico para ser visto do exterior.

Formalmente, a Catedral de Chartres é um edifício sólido, cuja sobriedade é determinada pelas proporções empregues, as quais constituem o seu aspecto estético mais importante.

O ritmo no interior manifesta-se em todas as partes da catedral: começa na base dos pilares e continua através da leveza dos fustes e nervuras até à abóbada, dando uma carácter plástico de verticalidade, acentuado pela terminação ogival dos arcos, janelas e abóbadas.


Outros factores plásticos são o efeito visual da luz e a policromia produzida pelos vitrais e toda a ornamentação escultórica, que adquire maior relevancia nos portais.

A Catedral de Chartres produz uma grande impressão óptica tanto no exterior como no interior, ainda que de modo muito diferente. A sua beleza manifesta-se, em primeiro lugar, pela clareza da sua anatomia estrutural e pela ordenação dos elementos que a compõem. Apesar de ser austera relativamente às catedrais góticas posteriores, prima pela sua qualidade arquitectónica e pela sua harmonia.

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O edifício corresponde a um templo idealizado para o culto cristão católico. Encontra-se localizado no centro urbano da cidade de Chartres, na região central de França.

A luz, segundo a tradição neoplatónica medieval é um símbolo de beleza e de verdades divinas, como indica Dionísio Areopagita. Também a corrente agostiniana procura explicar o conhecimento superior humano pela iluminação divina.


Psicologicamente, através da iluminação adquire-se força espiritual, simbolicamente, a luz identifica-se com o espírito e com o intelecto como força criadora e energia cósmica. Em conformidade com a simbologia da luz, os vitrais dos janelões e as rosáceas constituem um meio iconográfico tanto pela sua figuração representada, como pelo tipo de luz e cor que emanam.

A criação mais simbólica por si mesma dos vitrais é a rosácea. A sua comparação com a rosa simboliza finalidade, concretização absoluta e perfeição. Enquanto transmissor de luz, pode simbolizar o sol manifestando a luz espiritual. Também é comparada com as representações do paraíso místico nos manuscritos do século XII, cujo esquema de representação formal é muito semelhante à rosácea.

No portal oeste de Chartres, sobre a porta principal, representa-se a Cristo no seu trono na qualidade de juiz e soberano do universo, ladeado pelo símbolo dos quatro evangelistas com os apóstolos a seus pés e os vinte e quatro chefes do Apocalipse nas arquivoltas.



O conjunto dos vitrais de Chartres não desenvolve um tema iconográfico unitário, mas reserva os espaços mais importantes para os temas essenciais, de forma que o vitral central do presbitério representa a imagem da virgem, a cujo culto o templo é consagrado.


A constante referencia ao impulso ascendente e a importância atribuída aos eixos verticais, representam a intencionalidade metafísico-religiosa da união entre o céu e a terra.

O bispo de Chartres, amigo do abade de Suger, por volta de 1145 começa a construir a antiga catedral románica de Chartres. Um incendio a destrói, exceptuando-se a fachada ocidental. Inicia-se então uma segunda reconstrução a partir de 1194, coincidindo com o início do século de maior esplendor medieval e na província eclesiástica mais rica de França. A vida económica da região converge para o centro urbano de Chartres, nomeadamente com a realização das quatro feiras que coincidem com as festividades consagradas à Virgem.

A instituição monárquica no século XIII firma o seu prestígio e transforma a catedral gótica na expressão artística do seu poder, que se encontra claramente revestido nos temas iconográficos dos portais. A catedral torna-se imprescindível no meio urbano, que se encontra em pleno crescimento, motivando o aparecimento das primeiras lojas de artesãos, bem como dos canteiros em que nela trabalhavam.

A projeção da Catedral de Chartres ocorre num momento em que o auge político, cultural e económico que se desenvolve a partir do século XIII, converge com o génio do mestre-arquitecto que dirige toda a criação artística. A obra transforma-se num modelo clássico de catedral gótica, que terá influencia nas futuras realizações arquitectónicas.



Bibliografia: Método para a interpretação de obras de arte, Joan Jesus Insa Rufach, editora Planeta, 1992





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