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Guia para Gestores de Escolas

Retorno às aulas: Como as escolas estão se preparando para o retorno presencial?

Com alguns meses cumprindo isolamento social como medida de prevenção ao novo coronavírus, alguns estados brasileiros começaram a desenvolver protocolos e estratégias para a retomada do ensino presencial nas redes pública e privada. Nos protocolos – que envolvem limpeza e desinfecção do espaço, distanciamento, escalas e revezamentos entre os alunos, equipamentos de proteção – novas dinâmicas aparecerão e guiarão as rotinas nas escolas

Por Rafael Pinheiro / Fotos Katia Ribeiro de Souza e Divulgação

No último mês um tema específico ganhou a centralidade nos debates políticos, sociais, governamentais e sanitários: a possibilidade da retomada das aulas presenciais – tanto da rede pública como da rede privada. Protocolos de segurança, medidas específicas de higiene pessoal, estratégias de revezamento de estudantes e mudanças na rotina escolar com o intuito de evitar aglomerações são alguns pontos-chave para essa retomada que, dependendo de cada estado brasileiro, terá um cronograma próprio.

No estado de São Paulo, por exemplo, o governador João Doria anunciou em coletiva de imprensa no final do mês de junho, que a retomada das aulas presenciais em todos os níveis de ensino está atrelada aos protocolos rígidos de saúde definidos pelo Plano São Paulo e suas fases de flexibilização. Nesse plano, a retomada só acontecerá se todas as regiões do estado permanecerem na etapa amarela – fase menos restritiva segundo os critérios de progressão da pandemia – por 28 dias.

De acordo com o plano de retomada, cada escola trabalhará com um número reduzido de estudantes em sala de aula, com revezamento de alunos entre aulas remota e presencial; distanciamento de 1,5 m entre as pessoas; horários alternados para recreios e intervalos; uso obrigatório de máscara nas instituições de ensino e no transporte escolar; adoção de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual); e higienização frequente das mãos.

Segundo Rossieli Soares, Secretário de Estado da Educação, após a pandemia “a educação será ainda mais importante em todas as suas dimensões, do ensino infantil ao superior e complementar. Por isso o plano de retorno é tão importante, com segurança e dentro do que é estabelecido pelas autoridades de saúde”, declarou em coletiva de imprensa.

HIGIENIZAÇÃO

Um dos pontos fundamentais no plano de retomada é a higienização completa de todas as áreas de circulação da instituição. E esse processo de higienização deve vincular a limpeza e a desinfecção. Ivam Cavalcante, diretor executivo de uma empresa especialista em desinfecção, destaca que a limpeza deve ser realizada removendo a sujeira visível e logo após a desinfecção nos mesmos locais.

“Por que limpar antes de desinfetar? Há uma premissa na área da Saúde que é largamente conhecida. O que não está limpo, não pode estar desinfetado ou estar estéril. Sem a remoção da sujeira se torna muito desafiador que produtos desinfetantes consigam realizar a correta desinfecção”, ressalta o diretor.

A periodicidade da limpeza dos ambientes depende dos turnos frequentados pelos alunos. Geralmente, as escolas têm aulas nos períodos matutino e vespertino e é interessante, no intervalo entre um turno e outro, além dos cuidados pessoais (uso de máscara, medição de temperatura, higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel), uma limpeza a cada período e, ao menos uma vez ao dia, uma desinfecção.

“Os alunos de cada período e as pessoas envolvidas nos cuidados e atenção a eles em cada período (professores, profissionais de assistência a educação, alimentação, entre tantos outros) circulam outros ambientes antes de chegar à escola, podendo trazer e levar consigo a própria Covid-19 e outros micro-organismos”, afirma Cavalcante.

No Colégio Marista Arquidiocesano, localizado na região sul da capital paulista, o planejamento para o retorno presencial conta com um robusto protocolo de segurança para apoiar os estudantes, os docentes, os colaboradores e as famílias. “No momento, o colégio está estruturando toda a operação e realizando os testes para retorno das aulas”, diz Carlos Dorlass, diretor geral do colégio.

Além das ações de limpeza, distanciamento, medição de temperatura por meio de termômetro biométrico de infravermelho, aumento de fluxo de ar e ventilação nos ambientes e cancelamento de eventos que causem aglomerações, as salas de aula contarão com sinalizações de segurança e demarcações específicas para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental – Anos Iniciais. “Serão disponibilizados totens com estilizador paras crianças e ocorrerá a capacitação dos colaboradores para realização da higienização dos ambientes. Uso também de material descartável (luvas, óculos de proteção ou faceschield)”, afirma o diretor, que complementa: “as opiniões e necessidades das famílias também estão sendo ouvidas para que o Colégio Marista Arquidiocesano tenha a melhor solução educacional e um ambiente saudável e acolhedor para todos”.

NOVA CULTURA ESCOLAR

O Colégio Renascença, tradicional instituição de ensino com 98 anos de atuação em São Paulo, desenvolveu algumas estratégias de segurança, cuidado e acolhimento para receber os alunos nessa retomada presencial. Além da utilização de máscaras e dos EPIs, do distanciamento e dos dispensers com álcool 70%, novas dinâmicas entrarão na rotina escolar, como no horário do recreio com a utilização de uma cantina on-line.

Os alunos da Educação Infantil terão as refeições servidas na sala de aula, respeitando o distanciamento. O mesmo acontecerá com estudantes do Ensino Fundamental e Médio que, além de poder levar o próprio lanche, também poderão comprar produtos da cantina por meio de um aplicativo on-line com um dia de antecedência – para evitar aglomerações. Diariamente a cantina fará o preparo dos lanches agendados e entregará na sala de aula.

Professores, colaboradores e, em especial, funcionários de manutenção e limpeza continuarão a receber treinamentos sistemáticos que visem à orientação dos alunos e higienização constante das instalações. A desinfecção dos locais de uso interno coletivo será realizada a cada três horas e da instituição diariamente, após o horário letivo.

João Carlos Martins

Na equipe docente, haverá um escalonamento de horários para a utilização da sala dos professores, obedecendo o número de pessoas por ambiente e evitando aglomerações. De acordo com João Carlos Martins, diretor geral do Colégio Renascença, esse momento de transição e retomada ao ambiente físico escolar é de grande desafio, mas a instituição tem se preparado para estabelecer uma nova cultura escolar para o esperado retorno. “A nossa equipe multidisciplinar está analisando experiências de países e regiões que já retornaram às atividades presenciais e conclui-se que o retorno não se dará como o de um recesso tradicional. O cenário apresenta novos e complexos desafios que só poderão ser superados com a colaboração e adaptação de todos. Enquanto olhamos para o próximo, olhamos para nós mesmos”, conta o diretor.

VÍNCULO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA

“A pandemia trouxe muitas aprendizagens e nos permitiu encontrar possibilidades de maior interação da escola com a família e com a sociedade”, destaca Marianna Canova, diretora pedagógica da escola Peixinho Dourado Berçário e Educação Infantil, localizada em Curitiba/PR.

Uma das providências mais importantes para facilitar o retorno presencial, quando ele for possível, será manter o vínculo com as famílias pelo qual a escola sempre prezou, e que conseguiu manter durante os meses de pandemia. “É importante enfatizar para as famílias o senso de pertencimento, pois eles fazem parte da escola”, explica Canova. Durante a pandemia, conta a diretora, além dos encontros virtuais com os alunos, o colégio realizou diversas lives com temas relacionados à infância com profissionais especialistas nessa temática, além de “reuniões virtuais com as famílias que oportunizaram grande participação, por não depender de logísticas como trânsito. O treinamento da equipe também poderá continuar on-line em alguns momentos, oportunizando a interação da equipe completa ao mesmo tempo. Continuaremos com algumas estratégias on-line sim, especialmente com os adultos”, ressalta.

ENTRE O PRESENCIAL E O DIGITAL

Desde a ascensão da pandemia no país e da determinação do isolamento social, um dos principais desafios observados por diversas instituições de ensino, foi a adequação do aprendizado para um formato totalmente remoto. Nesse sentido, a pandemia provocou uma ruptura inesperada com os modelos tradicionais de ensino-aprendizado e estimulou, de forma inesperada para muitos docentes, uma reformulação das metodologias pedagógicas.

“É fato que a grande maioria das escolas foi pega de surpresa com a pandemia. E trabalhar remotamente não é transferir a didática empregada presencialmente para o virtual, por mais que muitos tenham feito isto!”, afirma Ismael Rocha, diretor acadêmico do Institute of Technology and Education. “E a readaptação dos estudantes no retorno ao presencial não pode ser vista como uma volta das férias”, completa.

Dessa forma, nesse momento de repensar metodologias e didáticas, especialmente em um momento de retomada, é interessante utilizar diversos canais e plataformas para produzir conhecimento. No Colégio Albert Sabin, instituição localizada na capital paulista, Dioneia Menin, coordenadora Educação Infantil e Ensino Fundamental I, conta que o colégio já realizava as “propostas de ensino híbrido e vamos manter essa fusão entre o ensino presencial e o digital”.

Dioneia Menin

Já na Escola Luminova, com unidades em São Paulo, o plano curricular será mesclado entre aulas presenciais e on-line. “A escola já estava habituada em utilizar muita tecnologia para o processo de aprendizagem do aluno, como plataformas online e o processo de adaptação durante a pandemia foi relativamente tranquilo, trazendo resultados bastante satisfatórios”, conta Luizinho Magalhães, diretor acadêmico da escola.

Segundo o diretor, mesmo antes da pandemia, uma das metodologias utilizadas em sala de aula era o blended learning, uma modalidade de aprendizagem híbrida, como uma fusão entre presencial e digital. “O que evoluímos nesse momento foi com as aulas ao vivo que com certeza continuarão, pois, como as aulas presenciais serão para uma quantidade limitada de alunos, os que optarem por ficar em casa, continuarão utilizando os recursos tecnológicos, como a plataforma digital, aulas on-line e ao vivo”, afirma Magalhães.

Luizinho Magalhães

Também em São Paulo, com mais de 30 anos de experiência na educação, o Colégio Renovação continuará, em um momento pós-pandemia, com as aulas e atividades em ambiente digital. “Essa já era uma prática no Colégio Renovação desde a implantação da plataforma Google For Education, no início de 2016”, conta Sueli Bravi Conte, mantenedora, diretora geral e psicopedagoga da instituição. Assim que for permitido o retorno das atividades presenciais, o colégio adotará a metodologia de ensino híbrido. “Essa já era uma tendência e se tornou realidade muito antes do previsto”, completa Conte.

Nessa nova realidade que atravessamos com bruscas mudanças em todos os setores sociais, refletir sobre a educação, seus propósitos e as necessidades dos estudantes do século XXI, é uma forma positiva de transformação de todos e todas. “Creio que essa seja uma ótima oportunidade para utilizar o modelo híbrido, pois o momento é propício. As escolas têm que se preparar para tudo o que virá no mundo pós-pandemia”, finaliza o diretor acadêmico Ismael Rocha.

FOCO NO PRESENCIAL

Na Cataventura Escola de Educação Infantil, localizada em Caxias do Sul/RS, os contatos pessoais, as características socioemocionais e os aspectos lúdicos ganham centralidade na instituição – inspirada nos estudos de Maria Montessori, a escola foi construída com o intuito de proporcionar o protagonismo infantil, bem como as experiências e descobertas que atravessam toda educação infantil.

E, com isso, conta a diretora Laina Brambatti, em um momento pós-pandemia, a escola manterá o seu foco nas atividades presenciais, sem o incentivo do ambiente digital. “Utilizamos as ferramentas virtuais com moderação, pois, para crianças menores de 6 anos os riscos do uso excessivo dessas tecnologias são muito grandes, sendo assim, procuramos não incentivar. Quando deixar de ser a única forma de interação, voltaremos a utilizar apenas quando muito necessário”, declara Brambatti.

Saiba mais:
Carlos Dorlass – [email protected] 
Dioneia Menin – [email protected]
Ismael Rocha – [email protected]
Ivam Cavalcante – [email protected]
João Carlos Martins – [email protected]
Laina Brambatti – [email protected]
Luizinho Magalhães – [email protected]
Marianna Canova – [email protected]
Sueli Bravi Conte – [email protected]

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