Nunes — sente-se isso em seu olhar, sente-se isso em tudo que escreve — é de uma pureza surpreendente. Talvez a explique o fato de que é...

De uma pureza surpreendente

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Nunes — sente-se isso em seu olhar, sente-se isso em tudo que escreve — é de uma pureza surpreendente. Talvez a explique o fato de que é diácono permanente da Arquidiocese da Paraíba e oblato beneditino do Mosteiro de Olinda.

Sinto, nele, a mesma aura de santidade do médico Dr. Sebastião Ayres e do ex-arcebispo da Paraíba, Dom José Maria Pires. Talvez porque — embora eu resultasse avesso a qualquer fé — minha mãe tivesse sido Filha de Maria e meu pai, Vicentino. Há um quê de incenso, em Dr. Sebastião,
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Serraria ▪ PB
em Nunes, como havia em Dom José, que me é familiar.

Ele busca, sempre, e isso me lembra a cena final do “Gladiador” de Ridley Scott, em que o protagonista caminha em meio a um trigal, que acaricia), o contato físico da terra natal. Com o bordão machadiano “O tempo mudou ou mudamos nós?”; cria — a propósito — um mui tocante relato em Cantigas do Natal, “quando as árvores mudavam as folhas, os cajus e as mangas maduros se esparramavam pelo chão, os araçás amadureciam nas capoeiras e em casa mamãe pendurava num galho de árvore capulhos de algodão colhidos no roçado, onde colocava objetos – caixas de fósforos cobertas com papel dourado e flores de papel branco".

Pode-se ser mais humilde?

Não à toa elege como os mais belos versos que conhece, os de Bandeira, quando diz, por exemplo:

"Assim eu quereria meu último poema Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas"

Em “Os Ipês Voltaram a Florir”, fala, deslumbrado, “das árvores que nos rodeavam”, em Serraria:

“ ... os paus-d’arco-amarelos, como costumeiramente chamamos os ipês, imponentes, majestosos”, a disputar espaço com as palmeiras”. “Do terreiro de casa observávamos as copas amarelas, roxas e brancas dos ipês no cimo das serras ou nos descampados ao largo, em demanda de Areia e Arara.”
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José Nunes contempla as palmeiras de Serraria, sua terra natal Fotografia de Antonio David Diniz
Escreve, em “Sonhos e Alegrias”:

“A vida está em Serraria: substância criadora. Nas entranhas de Serraria.”

O que leio a seguir, de “Este Lugar me Alegra”, me lembra uma sequência do “Amarcord” (Io mi recordo) de Fellini, em que quase todo mundo da cidadezinha italiana está no cinema, vendo “Cabíria”, um clássico sobre a Roma dos Césares, quando alguém grita lá fora “está nevando!”, e o cinema é totalmente abandonado:

“Na manhã de Sol antecipado, que deixou Arara alvoroçada, larguei os poemas de Leandro Gomes de Barros sobre a mesa e fui caminhar por recantos nunca mais visitados.”

Beleza, Nunes.

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  1. Difícil é encontrar um crente mais humanista que Solha, em pensamentos palavras e obras. Acho que ateus humanistas precederão a muitos “cristãos” no Reino dos Céus. D. José Maria disse, certa vez, que há muitos padres enclausurados no Antigo Testamento, isto é, precisam se converter
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