Uma vergonha

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Fica-nos bem celebrarmos os nascimentos, esperando que não tenha sido mais uma besta a ser parida. A dúvida e a esperança assemelham-se. Mas fica-nos mal comedirmo-nos com as mortes de quem viveu mal. No PÚBLICO de anteontem, noticiava-se a morte, em Santiago do Chile, de um nazi pedófilo, com 89 anos, condenado em 2006 pela violação de 25 crianças. O título era Morreu ex-cabo nazi que fundou culto no Chile. Haveria de ser: Morreu o nazi pedófilo Paul Schaefer, preso há quatro anos.

Bem sei que a Lusa se restringe aos factos (e que o texto da notícia contém tudo o que precisamos de saber) mas, sem querer armar-me em cripto-provedor, o "ex-cabo nazi" dá a ideia dele ter deixado de ser nazi e o "fundou culto no Chile" tem um toque triunfalista que, para quem não lê os corpos das notícias, atira para segundo ou terceiro plano o facto de ter abusado sexualmente de 25 crianças, graças ao "culto" que fundou.

Foi um monstro que viveu bem durante 84 anos da vida dele; um nazi violador de crianças, rodeado por mais 300 alemães, muitos deles abusadores de crianças e torturadores ao serviço de Pinochet, num enclave no Chile cujo nome era "Colonia Dignidad". Dignidade no sentido de Arbeit macht frei.

Ainda bem que morreu este monstro. Foi pena ter vivido tão bem durante tanto tempo. Foi pena não ter morrido à nascença. É essa a verdade que as notícias, por se armarem em notícias, escondem sempre.

Que alívio ter deixado de existir. A morte é boa.

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