O inspirador caminho de santidade do casal de beatos Luigi Quattrocchi e Maria Corsini

Vida e testemunho dos patronos do X Encontro Mundial das Famílias esteve em destaque na última conferência do congresso teológico pastoral

Foto: comunicação do X Encontro Mundial das Famílias

O último dia de trabalhos do congresso teológico pastoral, em Roma, do X Encontro Mundial das Famílias, no sábado, 25, começou com um momento de meditação e adoração eucarística na Sala Paulo VI.

Às 13h30 (horário de Brasília), na Praça São Pedro, o Papa Francisco presidirá a missa com a participação dos congressistas. A celebração será transmitida pelo canal do YouTube do Vatican Media em português, assim como tem ocorrido com todas as atividades do X Encontro Mundial das Famílias. O link para o acesso é https://www.youtube.com/c/VaticanNewsPT.

A última das cinco conferências do congresso teológico pastoral aconteceu na manhã deste sábado, tratando do tema “Família, caminho de santidade”, na qual se destacou o testemunho de vida e de fé dos italianos Luigi Beltrame Quattrocchi e Maria Corsini, primeiro casal a ser beatificado, em 21 de outubro de 2001, por São João Paulo II.

Luigi e Maria casaram-se em 1905 e tiveram quatro filhos: Filipe, Estefânia, Cesar e Henriqueta, a última a nascer, em 1914, e cuja gestação representou risco de vida a Maria, mas ela e Luigi se recusaram a praticar o aborto que lhes fora sugerido. Henriqueta viveu por 98 anos e cuidadosamente manteve o zelo da casa onde os pais viveram e que se tornou ambiente inspirador aos casais sobre como viver a santidade no Matrimônio. 

Beatos Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi

UMA VIDA SIMPLES E DE FÉ

Luigi e Maria participavam da missa diariamente, bem como rezavam o Terço e faziam orações em outros momentos do dia. Eram, ainda, voluntários da União Nacional Italiana, transportando os enfermos aos santuários nacionais e internacionais. Além disso, prestaram serviço e assistência aos soldados e civis feridos durante as duas guerras mundiais.

A santidade de vida por eles alcançada, porém, não foi fruto de feitos extraordinários, mas de um amor em família cultivado no dia a dia, conforme recordou um de seus netos, Francesco Beltrame Quattrocci, professor de Bioengenharia, e filho adotivo de Henriqueta. Ele foi um dos que falaram na conferência, assim como o casal italiano Andrea Bicchiega e Patrizia Marchegiani, que se inspirou em Luigi e Maria para a vida matrimonial.

Francesco ressaltou que a família é a célula essencial que faz com que a humanidade não viva o caos, pois nela se encontra a ordem, as regras e os primeiros meios de subsistência, além de ser na família que a vida encontra sua plena realização e continuidade.

“Luigi e Maria foram pessoas absolutamente normais, que constituíram uma família absolutamente normal. Dia após dia, com constante coerência da Palavra, do exemplo e da oração, eles ajudaram seus filhos a aprender a viver, a pensar, a agir, tendo a alegria de saber que sempre nos momentos de dificuldades, e tiveram muitos ao longo da vida, eram amadíssimos pelo Pai, e, também, amaram-no livremente, acima de qualquer obstáculo”, recordou Francesco.

O casal de beatos amou incondicionalmente seus quatro filhos, sempre buscou responder de modo consciente o que é a essência da vida e como seria a melhor maneira de vivê-la. 

“Eles viveram o cuidado e o carinho entre eles, sempre atentos e respeitosos às diferentes e fortes personalidades individuais dos membros da célula familiar, incluindo os avós. A sua célula familiar era estruturada como qualquer célula viva a nível biológico, visando replicar seu material genético como expressão do impulso vital. Como toda célula, tinha uma membrana que a protegia por dentro, mas que também permitia que se projetasse para o exterior para transmitir as mensagens da família”, disse, em tom metafórico, o professor de Bioengenharia.

ABERTOS AO PRÓXIMO E À AÇÃO DE DEUS

A hospitalidade também era um traço distintivo do casal, mantendo sempre as portas de sua casa aberta para acolher e aconselhar os que precisavam.

O amor de Luigi e Maria foi crescente ao longo da vida, como se pode comprovar nas cartas românticas que trocavam desde a época de namoro e ao longo de todo o Matrimônio.

Francesco destacou que tais mensagens indicam um percurso de comunhão e harmonia progressiva entre Luigi e Maria, um amor crescente que os fez enfrentar a escalada da vida e deixar indicativos de longo prazo para casais de diferentes realidades.

“Luigi e Maria se preocuparam em ser construtores contínuos e atentos de um modelo de célula familiar liderado por Jesus, o que os tornava capaz de dialogar com outras famílias diferentes de seu modelo, porque queriam que todos compreendessem plenamente o valor do dom da vida, com grande confiança nos desígnios de Jesus”, comentou Francesco, lembrando, ainda, que eles se ocupavam em olhar a família em toda as dimensões, numa perspectiva de 360o

OS BEATOS INSPIRAM UM NOVO CASAL

E o bom exemplo de Luigi Beltrame Quattrocchi e Maria Corsini atravessou décadas, especialmente pelo zelo de sua filha mais nova, Henriqueta, que cuidadosamente manteve as características da casa onde os pais viveram, um local que se tornou inspiração para os casais.

Assim ocorreu com Patrizia Marchegiani e Andrea Bicchiega, que conheceram a vida de Luigi e Maria por meio de Henriqueta, e que a partir desse testemunho de santidade em família encorajaram-se a unir em Matrimônio, conforme relataram durante a conferência do sábado. 

Criados em realidades distintas – Patrizia mais próxima de uma fé cultivada em monastérios, Andrea longe deste modelo de espiritualidade – eles foram noivos por longos anos, mas ao se aproximar o momento do casamento, Patrizia teve dúvidas se seria possível viver a vida matrimonial em uma perspectiva de santidade diante de tantos compromissos com que os casais precisam lidar na atualidade.

“Estava confusa. Fomos então, em peregrinação, até o túmulo de Luigi e Maria para pedir-lhes luz e discernimento. Ao voltarmos daquela peregrinação, com uma pitada de ousadia, batemos na porta da casa onde os esposos beatos haviam morado e onde sua filha mais nova, Henriqueta, ainda vivia. Com ela, aquela casa, como sempre fora com os seus pais, continuava extraordinariamente, incondicionalmente, aberta a qualquer pessoa. Quando chegamos lá, uma evidência se impôs para nós: o casamento é um caminho para a santidade. Sabíamos disso antes, mas em abstrato, pois em termos concretos essa verdade, que antes soava como muito boa, muito bela, parecia difícil de ser alcançada. De fato, como combinar o absoluto de Deus, o primado de Deus, com a vida agitada de uma família? Como fazer? Como conciliar isto?”, recordou Patrizia.

Entretanto, ao adentrar à casa onde viveram Luigi e Maria, Patrizia percebeu que é possível harmonizar a vida em família com a prática da fé: “Em tudo, até nas coisas banais e cotidianas da sala, da cozinha, podíamos perceber a profundidade da fé de tudo que ali se vivenciava”.

“Quando perguntavam a Henriqueta qual era o segredo da santidade dos pais, ela dizia que residia simplesmente em tentar fazer em todas as coisas a vontade de Deus. Aquilo nos impunha naquela casa, tudo que ali existia, parecia estar entrelaçado”, recordou Patrizia.

Tão logo ela e o senhor Andrea se casaram, eles quiseram ter filhos, mas Patrizia não engravidou por métodos naturais e o casal se recusou a realizar técnicas como a inseminação artificial, por acreditar que a vinda do filho é, antes de tudo, vontade da providência divina.

Com o tempo discerniram, que o que Deus lhes colocava como missão era a adoção de uma criança: “Há três anos, adotamos o Robert, essa criança maravilhosa que está aqui conosco. Todos os dias, ele nos faz transbordar o nosso coração de amor, nos faz suspirar de ternura. Poderá ser um imperador, um gênio? Não sabemos. Efetivamente ele é um filho, realizado plenamente, conforme nos diz a Palavra de Jesus: ‘Quem recebe um destes pequeninos é a mim que recebe’ (cf. Mt 18,5)”, concluiu Andrea.

Após a realização dessa conferência, casais de diferentes países darão seus testemunhos nos painéis “Caminhos de santidade” – com destaque para o discernimento na vida familiar cotidiana, o acompanhamento espiritual das novas formas de união, atitudes quando um dos cônjuges não é cristão, e o perdão – e “Matrimônio e família: santidade no cotidiano”.

(Texto produzido a partir da tradução ao vivo do Vatican Media em Português)

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