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Escritora Judith Butler sofre agressão no aeroporto de Congonhas

Filósofa e sua mulher foram alvo de protestos na manhã desta sexta-feira
Judith Butler (esq.) e sua mulher, Wendy Brown, no aeroporto de Congonhas Foto: Reprodução de vídeo do Facebook
Judith Butler (esq.) e sua mulher, Wendy Brown, no aeroporto de Congonhas Foto: Reprodução de vídeo do Facebook

RIO — Após protestos contra e a favor de suas palestras no Brasil , a filósofa e escritora Judith Butler foi agredida verbalmente no aeroporto de Congonhas, na manhã desta sexta-feira. Um vídeo publicado no perfil do grupo que organizou o protesto, no Facebook,  mostra Judith sendo abordada por duas mulheres e um homem, que gravou o protesto com o clelular. Wendy Brown, mulher da escritora, foi confundida com Judith, e passou a ser perseguida pelo grupo, que portavam placas contra a presença da filósofa no Brasil. Em determinado momento, além das ofensas, uma mulher avança com o carrinho de bagagem sobre as pernas de Wendy.

A assessoria de imprensa da Infraero, que administra Congonhas, confirmou a presença do grupo que protestava contra a escritora, reforçando que a segurança do local garantiu o embarque de Judith.  As agressões verbais começam aos 7 minutos e 30 segundos do vídeo abaixo.

O filósofo e professor Vladimir Safatle, um dos articuladores da vinda da autora a São Paulo, confirmou que um pequeno grupo descobriu o horário em que Judith embarcaria e foi até o aeroporto com cartazes e faixas.

— Por conta das ameaças prévias, toda a permanência da Judith em São Paulo demandou um grande esquema de segurança. Ela precisou ser escoltada durante todos os seus trajetos pela cidade, mas hoje achou que poderia embarcar sem problemas e dispensou os seguranças — comenta Safatle.

O professor lamentou os incidentes que marcaram a passagem da escritora pelo Brasil e expressou preocupação com o risco do clima de radicalização afastar intelectuais do país.

— As pelestras da Judith aqui começaram a ser articuladas há muito tempo, e são parte importante do processo de internacionalização das universidades brasileiras. Ataques como estes são devastadores para este movimento. Que pensador vai se dispor a vir a um país onde as pessoas queimam bonecos de uma professora como se fosse uma bruxa?

Em seu perfil no Twitter, o jornalista Jorge Cordeiro noticiou a perseguição à escritora em Congonhas, por meio do relato de uma amiga que estava presente no aeroporto e que, ao tentar intervir, também sofreu agressões do grupo.

—  Minha amiga viu a confusão depois que a Judith saiu do check-in e, ao tentar defendê-la, passou a ser agredida verbalmente também. Ela também disse que uma mulher a acertou com uma placa, arranhando seu rosto. Ela registrou um boletim de ocorrência no local e, segundo informou, a agressora foi levada para prestar esclarecimentos — conta Cordeiro.

BONECA QUEIMADA EM PROTESTO

Na última terça-feira, dezenas de manifestantes se reuniram no portão do Sesc Pompeia, em São Paulo, para protestar contra  e a favor da participação de Judith Butler no colóquio "Os fins da democracia". O evento, que aconteceu ao longo de três dias, tem gerado polêmica nas redes sociais nas últimas semanas por conta da presença da americana.

Os manifestantes contra a vinda de Judith ao Brasil queimaram uma boneca em tamanho natural  com o rosto da autora e protestaram contra o que chamam de "ideologia de gênero", supostamente estilmulada pela obra da filósofa, além de levar cartazes pedindo  por intervenção militar e criticando a Organização das Nações Unidas (ONU).