Para ampliar nossa base e nossa rede de luta: saída da CSP-Conlutas, já!

Nossa Adufes, por meio do GT de Política de Formação Sindical (GTPFS) acertou em cheio ao realizar o debate no dia 29 de setembro entre a ex-presidenta do Andes-SN, Eblin Farage (UFF), e o ex-diretor, Hélvio Alexandre Mariano (Unicentro). Esse debate, ademais, será relevante nacionalmente por sua qualidade e pela representatividade histórica dos debatedores. 

Ambos os debatedores, a meu ver, tiveram uma mesma leitura da história do movimento docente até a formação da Central Sindical e Popular – Conlutas (CSP-Conlutas). Desde o início da Andes, em 1981, até 2002, já como Andes-SN, houve uma tensão interna quanto ao caráter do sindicato: mais corporativo enquanto organização acadêmica, como a SBPC, ou ser um instrumento de luta da classe trabalhadora. Esse debate, ainda que um polo não exclua o outro, reverberou na saída da CUT em 2002 diante da iminente Reforma da Previdência, com o agravante da suspensão, em dezembro de 2003, do registro sindical do Andes-SN pela então Secretária Executiva substituta do Ministério do Trabalho. Com essa saída e suspensão do registro sindical, houve uma articulação contra o Proifes, criado para combater o Andes-SN, que culminou na fundação da CSP-Conlutas no Conclat (Congresso Nacional da Classe Trabalhadora) de 2010. A CSP-Conlutas surge, então, com uma concepção inovadora, aliando o movimento sindical e os movimentos sociais, urbanos e rurais, incluindo o movimento estudantil.

Embora Eblin reconheça a combatividade da CSP-Conlutas, porém, a divergência entre ela e Hélvio se deveu precisamente sobre a saída ou permanência nessa central sindical. Infelizmente o debate sobre essa saída soa bizantino para boa parte dos/as discentes de nossa universidade, como no desinteresse de nossos/as colegas de departamento. No entanto, exatamente por se vincular à necessidade de ampliarmos o número de associados e a participação deles no dia a dia de nosso sindicado, o debate concernente à manutenção da filiação do Andes-SN à CSP-Conlutas tornou-se, já faz tempo, imperioso. 

A diminuição de filiados e de participação nas assembleias e eventos, como apontou a Eblin, exige uma reflexão e questionamento sobre nosso sindicato e sua filiação à CSP-Conlutas. A ausência de democracia interna e a presença de movimentos sociais sem vida, mas que elegem delegados e influenciam a decisão de congressos, como a análise de conjuntura e a escolha de seus dirigentes, estabelecem certo hegemonismo do PSTU, gerando práticas e ações políticas opacas. Vejamos alguns exemplos de análises sectárias de conjuntura. Foi um equívoco a CSP-Conlutas proclamar em 01 de abril de 2016, na véspera do golpe empresarial-parlamentar, o slogan “Cheiro de mentira, fora Dilma!” — uma extensão do “Fora, todos!”, do PSTU; diga-se de passagem, em sua fala a Eblin reconheceu o erro da Diretoria do Andes-SN de, nessa época, não se opor claramente ao golpe. No entanto, até agora a CSP-Conlutas não reconheceu esse erro. Outro exemplo de distanciamento da base é a tomada de posição contrária à autonomia dos povos na guerra da Ucrânia.

Essas pautas demarcam uma concepção exclusivista e crescentemente alheia aos interesses do conjunto majoritário de professores e professoras de nossa categoria, mas não só. Tal opacidade na lida com divergências políticas fez relevantes coletivos, sindicatos e movimentos sociais — como o MTST, o maior movimento urbano do país e grande parceiro de lutas do Andes-SN — saírem da CSP-Conlutas; igualmente, o Sinasefe. Até no interior do nosso sindicato, por divergências políticos, 30 ADs (de um total de 90) não repassam à CSP-Conlutas de seus estados a sua contribuição mensal, eis um sinal eloquente do efetivo esvaziamento da importância da CSP-Conlutas no cotidiano das seções sindicais. Logo, nossa saída da CSP-Conlutas, portanto, não nos isolaria em nossas lutas. Independentemente de sua filiação à CSP-Conlutas, há muitas entidades em articulação com nosso sindicato… Na verdade, a CSP-Conlutas mais atrapalha do que contribui com a ampliação dessa nossa rede de parceria e luta; por isso, para uma ampliação da base do Andes-SN: abaixo o sectarismo!

*Marcelo Barreira – Professor do Departamento de Filosofia/CCHN e membro do GT de Ciência e Tecnologia da Adufes.

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