Michel Laub – “Caminhos teóricos na construção da personagem: o que dizem os escritores?” – PUCRS
O grupo de pesquisa “Teoria da escrita criativa: uma interface operacional com a teoria literária”, coordenado pelos professores doutores Luiz Antonio de Assis Brasil e Bernardo Bueno no Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) apresenta nesta série dez entrevistas para compor o artigo “Caminhos teóricos na construção da personagem: o que dizem os escritores?”, de autoria dos organizadores, mais Gabriela Ewald Richinitti, María Elena Morán Atencio, Maria Williane da Rocha Souto, Marina Soares Nogara, Marina Solé Pagot e Stéfanie Garcia Medeiros.
O quarto entrevistado é Michel Laub. Laub nasceu em Porto Alegre, em 1973. Escritor e jornalista, foi editor-chefe da revista Bravo, coordenador de publicações e internet do Instituto Moreira Salles e colunista da Folha de S.Paulo e do Globo. Hoje é colunista do Valor Econômico e colaborador de diversas editoras e veículos. Publicou oito romances, todos pela Companhia das Letras: Música Anterior (2001), Longe da água (2004), O segundo tempo (2006), O gato diz adeus (2009), Diário da queda (2011), A maçã envenenada (2013), O Tribunal da Quinta-Feira (2016) e Solução de dois Estados (2020). Seus livros saíram em 12 idiomas.
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O que nasce primeiro: a história ou a personagem? Explique.
Depende. Nos últimos livros, o tema surge antes disso tudo. Para mim não faz diferença o que vem antes, porque acabo mudando muita coisa no processo da escrita. Acho que o personagem tem que ser forte, no fim das contas, e trabalho para isso mesmo que tenha começado o livro de outro ponto. O que é ser “forte”? Não sei definir. De qualquer modo, para mim é mais uma questão de ponto de chegada do que de partida.
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Você sente que domina suas personagens ou considera que elas adquirem algum grau de autonomia ao longo da sua escrita? Explique.
Existe algum grau de autonomia. Mas não acho que seja por característica humana das personagens, algo assim. No meu caso é uma questão de adequação de linguagem, de convencer a mim mesmo de que as vozes dos tipos descritos são autênticas.
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Quais métodos ou ferramentas você utiliza para a criação de suas personagens (pesquisa, biografia, fichamento, cartas, desenhos, observações…)? Com que profundidade você precisa conhecê-las?
Não faço fichamento, desenhos. Anoto coisas aqui e ali. Pesquisa é ler, conversar com pessoas, eventualmente gravar uma entrevista. Em geral isso tudo eu uso para colorir ambientes, falar sobre coisas específicas (do mundo profissional da personagem etc.). Não é o principal nos livros, mas ajuda a tornar a coisa mais crível.
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Você costuma usar ou reger-se por algum insumo teórico antes ou durante a construção de suas personagens?
Não sei se entendi a pergunta. No geral, é um misto de intuição, coisas que vou pensando ao longo da escrita e eventualmente a pesquisa auxiliar que mencionei na resposta anterior.
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Você costuma se inspirar em pessoas reais para escrever suas personagens? Como é esse processo de converter alguém em ficção?
No geral não. Se tem algo disso, é uma mistura de várias pessoas e de fatos reais (ou supostamente reais) com invenções.
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Você destacaria alguma personagem que teve importância fundamental na sua escrita? Como sua rotina de criação e suas leituras influenciam a construção de suas personagens?
Personagens da vida real? Há vários. Alguns me ajudaram a pegar o gosto pela leitura, o que é essencial: minha mãe, que lia para mim quando criança; um primo que me emprestava revistinhas quando eu tinha uns 7 ou 8 anos; uma professora lá pelos 13, 14. Para ser escritor mesmo, muita gente me ajudou – por exemplo, o próprio Assis Brasil.