Lula, Dilma e Gleisi apontam: povo precisa ser a prioridade

Líderes do PT avaliam que foco na crise brasileira deve ser a proteção da vida, do emprego e da renda das pessoas. Reconstrução passa pela saída do presidente da República e convergência de forças para combater escalada autoritária do bolsonarismo. “A gente quer tirar o Bolsonaro pra defender a vida”, disse Lula

Ricardo Stuckert

Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff reforçaram as críticas ao governo federal ao defenderem, nesta segunda-feira, 1º de junho, o afastamento do presidente Jair Bolsonaro como forma de restabelecer a democracia, proteger a população e reconstruir o país. “A gente quer tirar o Bolsonaro pra defender a vida. Porque ele não gosta de mulher, não gosta de preto, não gosta de índio, não gosta do povo trabalhador. É por isso que estamos dizendo Fora, Bolsonaro”, defendeu Lula.

Dilma foi na mesma linha: “A gente está num quadro de crise muito profundo. E a crise econômica será extrema. As pessoas não estão sendo atendidas, nem as pequenas empresas. Vivemos uma crise terrível, porque estão todos desassistidos e as empresas – pequenas e micros – estão quebrando”, lamentou a ex-presidenta da República. “Esta situação mostra claramente uma das situações mais graves do governo: Bolsonaro não tem gestão. Não tem a menor capacidade de formulação de políticas”, denunciou.

As posições dos dois ex-presidentes foram expressas na reunião do Diretório Nacional do PT, na manhã desta segunda, durante videoconferência. A presidenta nacional da legenda, deputada Gleisi Hoffmann (PR), anunciou que vai reforçar as pressões para a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), diante da escalada autoritária do ocupante do Palácio do Planalto. “Há uma insatisfação crescente na maioria da população, que repulsa o governo”, disse a parlamentar.

Acordo por cima

Lula fez um alerta ao PT para evitar o embarque em algum processo que resulte num amplo acordo com o atual regime, para manter a política econômica conduzida pelo ministro Paulo Guedes. “Estou dizendo pra gente não pegar o primeiro ônibus que tá passando. Estão querendo reeducar o Bolsonaro, mas não querem reeducar o Guedes”, denunciou. “Tem pouca coisa de interesse da classe trabalhadora nesses manifestos. O editorial do Globo é uma proposta de acordo pra manter o Bolsonaro”.

A ideia também foi amplamente rechaçada por Dilma. “Esse governo reflete o acordo neoliberal e neofascista”, advertiu a ex-presidenta, lembrando que não houve uma ruptura profunda na relação entre os interesses do mercado e o bolsonarismo. “Você tem dissidências dessa relação, que defende a democracia liberal e mantém a pauta neoliberal”, ressaltou, citando como exemplo empresas de mídia. “A Globo defende a pauta neoliberal, que insiste em olhar gastos públicos em plena pandemia, quando o mundo inteiro – até a União Europeia – faz pacote de ajuda”, disse.

Ela lembrou que as dissidências também ocorrem na na política. “Existem dissidências. Ele era para ser tutelado, mas resolveu assumir o governo para o qual foi eleito. Não foi isso que os seus apoiadores esperavam. Os que se acomodaram foram os segmentos militares. Não sei até quando”, questionou a ex-presidenta. “Há segmentos importantes do mercado, obviamente, que podem vir a sair, mas que hoje ainda o sustentam”, ressaltou.

Dilma avalia que o desgaste de Bolsonaro se dá em outras duas frentes. “De um lado, passa a se tornar intolerável para os neoliberais e os defensores dos marcos civilizacionais, fica difícil para eles não romperem um pouco com o Bolsonaro”, disse. “E de outro lado, fica claro que uma parte da direita não rompeu. A direita institucional não rompeu. Exemplo: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia”. Dilma alertou que há uma tendência de isolar a esquerda. “Querem tirá-las, afastá-las e neutralizá-las sempre que possível”, comentou.

Frente popular

Dilma defendeu a formação de uma frente popular de reconstrução do país e a formação de alianças democráticas com as forças políticas dispostas a enfrentar o governo Bolsonaro neste momento. “As alianças democráticas que devemos formar serão fechadas sabendo com quem nós contamos para fazer alguns embates em comum”, defendeu Dilma. “Mas não contamos com tudo – não contamos! – para a retomada e para as próprias medidas para enfrentar o Covid-19”.

Ela acusou Bolsonaro de boicotar governadores e prefeitos no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, enquanto promove ataques sistemáticos às instituições democráticas. “O Bolsonaro utiliza a estratégia defendida pelo seu vice-presidente [Hamilton Mourão] de aproximações sucessivas nas quais ele vai normalizando todos os ataques à democracia”, denunciou.

“De um lado, temos claramente o Bolsonaro rompendo as instituições, desafiando o STF e o Congresso. De outro lado, temos uma situação econômica na qual o Paulo Guedes não tem nenhuma orientação para sustentar a economia”.

Abandono pelo governo

Dilma se mostrou solidária a governadores e prefeitos, que enfrentam uma situação desafiadora na pandemia. E lamentou que pessoas estejam morrendo de Covid-19 sem poder sequer entrar numa UTI, porque Bolsonaro não entrega equipamentos e nem dá dinheiro aos estados e municípios. “O governo federal promete e nunca realiza. Promete e não entrega”, disse.

“A gente está num quadro de crise muito profundo. E a econômica será extrema. As pessoas não estão sendo atendidas, nem as pequenas empresas. Vivemos uma crise terrível, porque estão todos desassistidos e as empresas – pequenas e micros – estão quebrando”, lamentou. “Esta situação mostra claramente uma das situações mais graves do governo: Bolsonaro não tem gestão. Não tem a menor capacidade de formulação de políticas”, denunciou.

Dilma disse que é importante manter-se atento ao desdobramentos da crise entre China e Estados Unidos, com o estremecimento da relação entre os dois países, lembrando que haverá consequências e impactos para o Brasil. “O Sr. Trump dá sustentação a Bolsonaro, mesmo quando ele fecha os voos. A sustentação é muito importante e tem um aspecto político internacional”, disse. “E não é só Trump que enfrenta a China. É todo o establishment, o Estado americano. Isso terá repercussões na forma pela qual a retomada da economia ocorrerá”.

Da Redação

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