Por Marcel Lopes, SP1 e G1 SP


Cidade de São Paulo ganhará estátuas que homenageiam personalidades negras da história paulista

Cidade de São Paulo ganhará estátuas que homenageiam personalidades negras da história paulista

Após a polêmica com a estátua do bandeirante Borba Gato, incendiada por ativistas, a Prefeitura de São Paulo informou que a cidade irá ganhar cinco estátuas que homenageiam personalidades negras que nasceram ou fizeram história na capital.

São elas: a escritora Carolina Maria de Jesus, o músico Geraldo Filme, o atleta olímpico Adhemar Ferreira da Silva, a sambista Deolinda Madre (madrinha Eunice) e o cantor Itamar Assumpção.

As obras devem começar em setembro deste ano e a previsão é que sejam instaladas em até seis meses.

Um estudo do Instituto Pólis, de novembro de 2020, analisou os 367 monumentos catalogados na capital paulista. Dos 200 que retratam pessoas, 169 são identificáveis como homens e apenas 24 como mulheres. Dos homens, apenas cinco são negros, e entre as mulheres, apenas uma. É a estátua "Mãe Preta", no Largo do Paissandu.

A pesquisadora do Instituto Pólis, Cássia Caneco, disse que a cidade tem muitas histórias para contar. "Mais importante que tirar ou colocar [estátuas] é o debate que se abre. Você olhar e se ver representado de maneira múltipla e diversa pode de alguma maneira reconstituir a dignidade desse povo que é diariamente massacrado".

Veja quem são os homenageados e onde ficarão as estátuas — Foto: Kayan Silva/G1

Conheça os homenageados e saiba onde ficarão as estátuas:

Carolina Maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus em 1958 na favela do Canindé, às margens do rio Tietê, onde viveu até lançar 'Quarto de Despejo' — Foto: Divulgação

Carolina Maria de Jesus é uma das escritoras mais lidas do país. Lançado em 1960, seu primeiro livro, "Quarto de Despejo", foi um sucesso. A escritora vendeu cerca de 3 milhões de livros, em 16 idiomas. Ela viajou pelo país e atraiu multidões.

Carolina saiu de Sacramento, no interior de Minas Gerais, para tentar a vida em São Paulo, onde se instalou na favela do Canindé, na Zona Central. Ela saía todas as noites para trabalhar como catadora. Logo, o papel virou matéria-prima para relatar o cotidiano da favela em que morava.

Localização da estátua: Parque Linear Parelheiros, onde Carolina viveu por muitos anos, e onde estão o Centro de Cidadania da Mulher e o Ponto de Leitura Carolina de Jesus.

Geraldo Filme

Geraldo Filme — Foto: Reprodução da capa do álbum 'Geraldo Filme', de 1980

Geraldo Filme (1928 – 1995), é um dos bambas pioneiros do samba de São Paulo. Inconformado com a hegemonia do samba carioca na mídia nacional, Geraldo Filme lutou para inserir São Paulo no mapa do samba feito no Brasil ao lado de outros bambas conterrâneos como o mais lembrado Adoniran Barbosa.

Artista de forte consciência social, o compositor deixou a assinatura firme em sambas como "A morte de Chico Preto" (1975), "Batuque de Pirapora" (1989), "Garoto de pobre" (1980), "São Paulo menino grande" (1968), "Silêncio no Bixiga" (1972) e "Vai cuidar de sua vida" (1980), entre outros.

Localização da estátua: Praça David Raw, na Barra Funda, próximo ao antigo Largo da Banana, muito frequentado por Geraldo e marca do samba paulistano.

Adhemar Ferreira da Silva

Adhemar Ferreira da Silva Adhemar ainda é o único atleta nacional a conquistar dois ouros consecutivos em uma Olimpíadas — Foto: Reprodução/Globo Esporte

Campeão olímpico no salto triplo em Helsinque 1952 e Melbourne 1956, Adhemar Ferreira da Silva ainda é o único atleta nacional a conquistar dois ouros consecutivos no principal evento esportivo do planeta. Está no Hall da Fama da World Athletics (Federação Internacional de Atletismo). É considerado por inúmeros atletas olímpicos brasileiros como o decano.

Conquistas muito além do que imaginava o menino da infância de "terra pisada" - como gostava de falar - no bairro da Casa Verde, na zona norte paulistana. Da curiosidade em saber o que representava ser um atleta, Adhemar se atirou para o que se tornariam duas paixões: o atletismo e o São Paulo, clube que até hoje carrega duas estrelas no escudo em sua homenagem.

Localização da estátua: Canteiro central da Avenida Braz Leme (Casa Verde), no bairro onde o atleta sempre morou na Casa Verde e onde clubes de atletismo surgiram a partir do sucesso dele.

Deolinda Madre (madrinha Eunice)

Madrinha Eunice saiu de Piracicaba para fundar uma das primeiras escolas de samba da capital paulista, a Lavapés — Foto: Acervo José Madre e Dona Lúcia Madre

Deolinda Madre, conhecida como madrinha Eunice, fundou uma das primeiras escolas de samba de São Paulo, a Lavapés, na década de 30, no bairro do Glicério, no Centro. A escola já foi sete vezes campeã do Grupo Especial nos anos 1950 e 1960.

“Uma mulher que vem do interior de São Paulo, de Piracicaba, negra, e que em 1937, pleno Estado Novo de Getúlio Vargas, ela funda a escola de samba aqui nessa região”, conta o sociólogo T. Kaçula, em entrevista na baixada do Glicério.

Localização da estátua: Praça da Liberdade, local sugerido por familiares.

Itamar Assumpção

Cantor, compositor e musicista Itamar Assumpção — Foto: Vange Milliet/Divulgação

Itamar Assumpção é um dos principais nomes do movimento “Vanguarda Paulista”, ao lado de Arrigo Barnabé, Grupo Rumo e Premeditando o Breque (Premê). Nascido em Tietê, no interior de São Paulo, o cantor já teve músicas de sua autoria gravadas por Rita Lee, Cássia Eller, Tom Zé, Ney Matogrosso e Zélia Duncan.

Desde a sua morte, em 2003, a família do artista vem divulgando o legado musical do cantor, com lançamentos como o songbook “Livro de Canções e Histórias de Itamar – Porque que eu não pensei nisso antes”, que chegou ao mercado em 2006.

Localização da estátua: ainda está em definição, mas locais como a Casa de Cultura da Penha, onde Itamar gravou a trilogia Bicho de 7 cabeças, em 1993, e que também conta com um estúdio em sua homenagem e no bairro onde ele nasceu; e a Praça Benedito Calixto, importante espaço cultural da cidade próximo ao antigo teatro Lira Paulistana, já estão sendo considerados.

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