• Marc Tawil*
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fotos, fotografias, reconhecimento facial (Foto: Getty Images)

 (Foto: Getty Images)

Para gerações e mais gerações acostumadas a tomar um cafezinho, almoçar e se sentar em uma sala de reunião para trocar cartões e ter conversas extensas e profundas, a pandemia da covid-19 é um baque difícil de lidar. Da noite para o dia, essas mesmas pessoas tiveram de se adaptar e entregar soluções para problemas com os quais nunca haviam se deparado.

A mudança mais radical para essa turma, sem dúvida, foi a substituição do tête-à-tête pela quase frieza da videoconferência. Embora não sejam a mesma coisa, o tempo se encarregou de mostrar que, se bem conduzida, a videoconferência pode ser tão efetiva quanto a conversa “ao vivo”, além de que abrir outras possibilidades.

“Certamente o digital vem para ficar, mas não como uma substituição do olho no olho, e sim como um complemento para atender a atual demanda que chamamos de ‘Novo Normal’. A busca pela pluralidade de formatos de apoio, a valorização e o reconhecimento das pessoas precisam ser constantes, então, ter o ambiente digital como um aliado aumenta esse potencial de impacto”, me diz Paula R. Brabo, head de Desenvolvimento Estratégico de Pessoas na One7, plataforma de serviços financeiros.

“A proximidade de gestor e funcionário, mesmo que digital, pode mudar a percepção do colaborador quanto à empresa, pois reforça o elo, a alegria de pertencer.”

Na empresa em que Paula atua, foram implementadas desde plataformas de monitoramento de engajamento, satisfação, felicidade das pessoas, bem como estímulo às atividades físicas, bem-estar mental, acompanhamento nutricional, reconhecimento de colegas de trabalho e análise de perfil comportamental.

A ideia, me conta a executiva, é que os dados e as ferramentas tornem a gestão estratégica das pessoas mais clara, transparente, próxima e eficiente.

“As experiências de retorno dos profissionais têm se mostrado cada vez mais satisfatórias, desde um índice médio de bem-estar de 8,5 (de 0 a 10) no segundo semestre de 2020, até a atribuição da nota “100” de acordo com 100% dos funcionários, quando questionados sobre o orgulho de trabalhar na empresa”, me revela Paula.

Para ela, a pandemia precipitou a figura do “RH Digital”: “Sem dúvida que sim. Para o nosso grupo, contudo, esta era uma pauta relevante antes da crise. Isso porque o potencial de escalabilidade do nosso negócio já exigia um acompanhamento mais abrangente das pessoas, dos dados e das entregas sem fronteiras geográficas”.

Democracia no setor

Eleito LinkedIn Top Voices Carreira 2021 e sócio da RecrutamentoFacil.com, Diego Godoy acredita que a tecnologia transformou o seu business, o recrutamento, em diversos aspectos – a começar pela forma com que os candidatos se apresentam: “Até o começo dos anos 2000, existia a cultura do envio do CV em papel para as empresas. Com o crescimento dos sites e plataformas de emprego e vaga, isso foi diminuindo até acabar”.

Segundo ele, isso acabou “democratizando” o setor: com o acesso a tecnologia, outras pessoas puderam abrir empresas de recrutamento e seleção sem depender de grandes investimentos em sistemas próprios.

Um exemplo que ilustra bem isso eram as áreas de “loading” das companhias de recrutamento, que existiam até pouco tempo, e nas quais pessoas literalmente digitavam os dados de currículos para serem inseridos nos bancos de dados proprietários. Isso foi eliminado com o avanço tecnológico.

Pergunto a Diego Godoy o que é verdade e o que é falácia na avaliação “artificial” de candidatos. “Existem, de fato, muitos avanços na avaliação de candidatos por máquinas de inteligência artificial que usam machine learning para incrementar sua assertividade a cada entrevista ou seleção. O HireVue é um exemplo disso. As falácias aparecem nas ofertas de sistemas que ‘fazem listas de candidatos utilizando Inteligência Artificial’, quando, na verdade estão baseados em tabelas dinâmicas que ligam competências exigidas nas vagas com os dados dos currículos, o que em si é um avanço enorme, se compararmos com 20 anos atrás”, me relata o especialista.

Godoy entende que, apesar da aceleração digital, a avaliação humana ainda é imprescindível no processo, pois sem ela não existe o entendimento de questões como o alinhamento cultural, habilidade de comunicação, entendimento real do objetivo da vaga em questão pelos candidatos finalistas.

“Além do quê, escuto muitos candidatos reclamarem da falta de contato com pessoas para se sentirem seguras em tomar a decisão de seguir ou não nos processos seletivos que participam.”

Ao registrar altos índices de candidatos que possuíam material de má qualidade para apresentar aos recrutadores, o headhunter criou um site que opera como editor de currículos online, o MeuNovoCV.

De duas semanas para cá, mais de mil pessoas foram beneficiadas pelo serviço, que é gratuito.

*Marc Tawil é empreendedor e estrategista de comunicação. Nº 1 LinkedIn Brasil Top Voices, é duas vezes TEDxSpeaker, e lança neste ano, pela editora HarperCollins Brasil, “Seja Sua Própria Marca”. Acesse meu canal oficial no Telegram e no YouTube.